domingo, 10 de agosto de 2008

Pai


A perda do pai(Artur da Távola)

A perda do pai: quem sabe vivenciá-la? Como aceitar mortal e falível aquela pessoa grande, capaz de conseguir o universo, logo ele, o provedor, abridor de caminhos pelos quais começamos a passar medrosos? A perda do pai é a retirada da rede protetora no momento do salto. E há que saltar. É o roubo feito no exato momento em que estávamos a descobrir o melhor do mundo.

A perda do pai é a entrada no lugar-comum, é começar a ser igual a todos os que a sofrem, a ter os mesmos medos, as mesmas frases. É voltar a se emocionar com o que se desprezava: datas, pequenas lembranças, objetos, palavras e até com as manias dele que nos irritavam.

A perda do pai é o começo do balanço da própria vida, porque, enquanto vivia, era mais fácil nele descarregar alguns fracassos e culpas. A perda do pai é o início da significação. As palavras começam a fazer um estranho e novo sentido. A perda do pai começa a nos ensinar o valor do tempo: o que não fizemos, a visita deixada para depois, o gesto adiado, a advertência desdenhada,
o convite abandonado sem resposta, o interesse desinteressado... tudo isso volta, massacrante, cobrando-nos o egoísmo.

Nosso primeiro exame de consciência verdadeiro
começa quando o pai morre. Nosso encontro com a morte inaugura-se com a dele. Nossa primeira noite sem proteção consciente
dá-se quando ele já não está. E nunca somos mais sós que na primeira noite em que já não o temos. O pai é o mistério enquanto vida e a revelação depois de morto. Num segundo, entendemos tudo o que, durante a vida, nele nos parecia uma gruta de mistérios. Seus objetos ganham vida,
suas comidas preferidas passam a ter mais gosto, suas frases adquirem o sentido que só o tempo
e a repetição outorgam às coisas.

A perda do pai dói muito! Isso é tudo. Para que querer saber por quê? O pai é o eu no outro. É dois em um, santíssima dualidade a proclamar
o mistério e a glória de existir, dívida que com ele temos, sem nunca conseguir pagar, o que o faz, por isso mesmo, sempre, muito melhor do que nós...

6 comentários:

Unknown disse...

Feel good......

Stella Petra disse...

Querida Elisete!

Quero primeiro agradecer de coração sua visita em meu pequeno Universo pessoal...Senti seu carinho em cada palavra...senti-me honrada...OBRIGADA!!!
Ler esse texto me trouxe um pouco de nostalgia e saudade...Não conheci meu pai pessoalmente, e ele se foi quando eu tinha apenas quatro anos...levei muito tempo nessa angústia...dor...ausência...é difícil perder quando nunca tivemos...Hoje, já fiz as pases com ele e comigo...sinto orgulho de ter tido ele como meu pai...
Nessa caminhada, encontramos muitos pais, em amigos, o que nos dá uma doce sensação de proteção e recompensa...É nosso pai nos dizendo...não estou ao seu lado mas, é como se estivesse...
SEJA SEMPRE BEM VINDA!
Abraços carinhosos do outro lado do mundo
Stellinha :)

Unknown disse...

A perda do pai, do herói, do provedor, referencial máximo de valores, respeito, afeto e proteção.
Nãe tem nem o que dizer...luto constante, até que a dor vai amansando, e vamos aprendemos a conviver, a cada dia.
Um beijo carinhoso e obrigada pela visita

Cristina Sousa disse...

Olá Amiga,

Este teu post trouxe-me uma saudade imensa.

Beijos doces e um feliz fim de semana.

bomfim disse...

OLÁ,ELIZETE.Muito linda sua dedicatória ao pai.Meu pai está velhinho,81 anos. Amo demais meu paizinho. Por outro lado, não tenho minha maezinha que se foi tão jovem à 25anos atrás.Entrei no seu blog por acaso,e deparei com essa homenagem ao seu pai . Me chamou atenção. Parabéns!!!!É linda!bjs.

bomfim disse...

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