A perda do pai: quem sabe vivenciá-la? Como aceitar mortal e falível aquela pessoa grande, capaz de conseguir o universo, logo ele, o provedor, abridor de caminhos pelos quais começamos a passar medrosos? A perda do pai é a retirada da rede protetora no momento do salto. E há que saltar. É o roubo feito no exato momento em que estávamos a descobrir o melhor do mundo.
A perda do pai é a entrada no lugar-comum, é começar a ser igual a todos os que a sofrem, a ter os mesmos medos, as mesmas frases. É voltar a se emocionar com o que se desprezava: datas, pequenas lembranças, objetos, palavras e até com as manias dele que nos irritavam.
A perda do pai é o começo do balanço da própria vida, porque, enquanto vivia, era mais fácil nele descarregar alguns fracassos e culpas. A perda do pai é o início da significação. As palavras começam a fazer um estranho e novo sentido. A perda do pai começa a nos ensinar o valor do tempo: o que não fizemos, a visita deixada para depois, o gesto adiado, a advertência desdenhada,
o convite abandonado sem resposta, o interesse desinteressado... tudo isso volta, massacrante, cobrando-nos o egoísmo.
Nosso primeiro exame de consciência verdadeiro
começa quando o pai morre. Nosso encontro com a morte inaugura-se com a dele. Nossa primeira noite sem proteção consciente
dá-se quando ele já não está. E nunca somos mais sós que na primeira noite em que já não o temos. O pai é o mistério enquanto vida e a revelação depois de morto. Num segundo, entendemos tudo o que, durante a vida, nele nos parecia uma gruta de mistérios. Seus objetos ganham vida,
suas comidas preferidas passam a ter mais gosto, suas frases adquirem o sentido que só o tempo
e a repetição outorgam às coisas.
A perda do pai dói muito! Isso é tudo. Para que querer saber por quê? O pai é o eu no outro. É dois em um, santíssima dualidade a proclamar
o mistério e a glória de existir, dívida que com ele temos, sem nunca conseguir pagar, o que o faz, por isso mesmo, sempre, muito melhor do que nós...
6 comentários:
Feel good......
Querida Elisete!
Quero primeiro agradecer de coração sua visita em meu pequeno Universo pessoal...Senti seu carinho em cada palavra...senti-me honrada...OBRIGADA!!!
Ler esse texto me trouxe um pouco de nostalgia e saudade...Não conheci meu pai pessoalmente, e ele se foi quando eu tinha apenas quatro anos...levei muito tempo nessa angústia...dor...ausência...é difícil perder quando nunca tivemos...Hoje, já fiz as pases com ele e comigo...sinto orgulho de ter tido ele como meu pai...
Nessa caminhada, encontramos muitos pais, em amigos, o que nos dá uma doce sensação de proteção e recompensa...É nosso pai nos dizendo...não estou ao seu lado mas, é como se estivesse...
SEJA SEMPRE BEM VINDA!
Abraços carinhosos do outro lado do mundo
Stellinha :)
A perda do pai, do herói, do provedor, referencial máximo de valores, respeito, afeto e proteção.
Nãe tem nem o que dizer...luto constante, até que a dor vai amansando, e vamos aprendemos a conviver, a cada dia.
Um beijo carinhoso e obrigada pela visita
Olá Amiga,
Este teu post trouxe-me uma saudade imensa.
Beijos doces e um feliz fim de semana.
OLÁ,ELIZETE.Muito linda sua dedicatória ao pai.Meu pai está velhinho,81 anos. Amo demais meu paizinho. Por outro lado, não tenho minha maezinha que se foi tão jovem à 25anos atrás.Entrei no seu blog por acaso,e deparei com essa homenagem ao seu pai . Me chamou atenção. Parabéns!!!!É linda!bjs.
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